A campanha de Gestão (2017-2020) do Conselho Federal de Serviço Social e dos Conselhos Regionais de Serviço Social (Conjunto CFESS-CRESS), Assistentes Sociais no Combate ao Racismo, aprovada no fórum máximo deliberativo da categoria em 2017, tem o intuito de debater o racismo no exercício profissional de assistentes sociais. Ao dar centralidade a este debate, queremos incentivar a promoção de ações de combate ao racismo no cotidiano profissional de assistentes sociais, ampliando a percepção sobre as diversas expressões do racismo.

Em novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, e o CRESS/PB terá uma programação de atividades e publicação de textos e conteúdos relativos ao tema, que é tão atual e tão necessário, na conjuntura social e política que se encontra o nosso país.

Para dar ênfase ao trabalho do/a assistente social no combate ao racismo, publicamos aqui um texto escrito pelas profissionais Josiane Soares Santos e Mauricleia Santos, retirado da Agenda Assistente Social 2019.

Você pode conferir todo o conteúdo da campanha no site: https://servicosocialcontraracismo.com.br/

Aproveite e compartilhe seu depoimento e as atividades realizadas no seu cotidiano profissional neste link ou nos canais de comunicação do CRESS/PB.

 

Racismo e exercício profissional de assistentes sociais*

“O que nós, assistentes sociais, temos a ver com o combate ao racismo?”

Imaginamos que várias/os de nós possam estar respondendo a esse questionamento a partir da negação de sua pertinência “no Brasil vivemos uma ‘democracia racial’. Somos ‘mestiços’ e nossa cultura é uma prova e que superamos o racismo”. Ou ainda “Racismo é coisa do passado. Hoje temos uma série de políticas de reparação e até cotas raciais nas universidades públicas!”.

Sem dúvida, o combate ao preconceito racial vem de longa data no Brasil e devemos reconhecer as vitórias obtidas nesse percurso como frutos de inúmeras lutas protagonizadas por entidades e organizações do movimento negro. Nesse campo, como em outros, a história nos ensina que não existem concessões. Existem conquistas.
Mas isso não significa que já possamos abandonar as “fileiras” do combate. O racismo no Brasil é secular e se reproduz desde o período escravocrata, perpetuando-se nas precárias condições de contratação e trabalho observadas ainda nos dias atuais.

Para fazer esse combate, é preciso começar enxergando as manifestações do preconceito racial entre nós e nos nossos locais de trabalho. Esse é um reconhecimento difícil, porque os/as usuários/as das instituições e serviços sociais com os quais trabalhamos nos chegam, em sua maioria, “classificados” a partir de suas demandas de classe, pois as políticas sociais existentes no Brasil, em seu modelo de proteção social restrito e seletivo, são pensadas para atender à classe trabalhadora que, na sua maioria, é negra e requer esses serviços em face de sua absoluta e degradante condição de expropriação.

O racismo institucional que precisamos reconhecer se expressa, portanto, no fato de ser essa parcela da população que está submetida aos piores salários, a todo tipo de violência, moradias precárias, transporte público sem qualidade e falta de acesso ao conjunto de outros direitos sociais e humanos. Nesse sentido, cabe uma provocação: será que estamos imunes ao racismo? Será que assistentes sociais nunca reproduzem o preconceito racial no seu trabalho? Essas atitudes podem ser bem sutis e, por vezes, naturalizadas como parte de uma cultura institucional de “destrato” com as demandas da população usuária. Não é incomum que se parta do suposto de que usuários/as das políticas públicas são “naturalmente desinformados/as” e/ou “perigosos/as”. Por essa razão, qualquer atendimento, ainda que careça de qualidade, é um “favor”. Também não é incomum que se reproduzam análises preconceituosas sobre as condições de vida, configuração familiar e outros aspectos em pareceres e estudos sociais. Os exemplos podem ser muitos e refletir sobre eles é o primeiro passo para que sejamos protagonistas de sua negação!

Temos compromisso ético com o “emprenho na eliminação de todas as formas de preconceito” e a “defesa intransigente dos direitos humanos”. Desse modo, é preciso que façamos uso de todas as chances que tivermos para considerar a dimensão racial das demandas associadas aos serviços, pois sabemos que, muitas vezes, elas sequer são percebidas pelos/as usuários/as, em função da ideologia da “democracia racial brasileira”. Podemos contribuir tanto na formulação, quanto na gestão ou na execução dos serviços, com a alteração de instrumentos e rotinas de trabalho, para criar espaços que permitam refletir sobre o racismo e as desigualdades não junto aos/às usuários/as, mas também ao conjunto dos/as trabalhadores/as que respondem pelo atendimento direto a essas pessoas. Essa não é, portanto, uma tarefa somente nossa! As equipes multiprofissionais precisam se envolver no combate ao racismo. Pensem, por exemplo, que “educadores sociais”, “agentes penitenciários”, “recepcionistas” e outros/as tantos/as profissionais e trabalhadores/as podem ser aliados/as importantes para combater as atitudes racistas presentes cotidianamente nas instituições.

O combate ao racismo requer ainda o envolvimento dos/as profissionais com os movimentos sociais e, nesse caso, especialmente as diversas organizações do movimento negro. O apoio, assessoria, mobilização e diálogo permanente com esses movimentos potencializam suas reivindicações por reparações, por parte do Estado Brasileiro, à população negra, que, já dissemos, é a maioria do público usuário das políticas sociais nas quais trabalhamos. Essas são também nossas vozes!

*Texto retirado da Agenda Assistente Social 2019 – uma publicação do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), gestão “É de batalhas que se vive a vida!” (2017-2020).

Sobre as autoras

Josiane Soares Santos (à direita) é assistente social, professora da UFS e presidente do CFESS (gestão 2017-2020).
Mauricleia Santos (à esquerda) é assistente social, professora da FMU e conselheira do CFESS (gestão 2017-2020).

 

 

Mariana Costa – JP/PB 3569

Assessoria de Comunicação

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