O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) veio a público, em defesa do Serviço Social, manifestar-se contra o conceito utilizado por Angela Alonso (professora do departamento de sociologia da USP), em seu artigo publicado na Folha de São Paulo, intitulado “A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas“.
O Cress/PB, em conjunto com os demais Conselhos Regionais e o CFESS, defende a prática profissional do Serviço Social, que tem um histórico de luta, em defesa dos direitos do trabalhar, visando a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social.
O artigo original, você vê aqui: https://goo.gl/adQru4
Abaixo, segue a manifestação do CFESS acerca do artigo supracitado.
OFÍCIO CFESS Nº 883/2016
Brasília, 28 de outubro de 2016
À Senhora
Angela Alonso
Assunto: Artigo “A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas”.
Prezada Senhora,
1. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), entidade que tem como atribuição precípua a orientação e fiscalização do exercício profissional de assistentes sociais no Brasil, ao tomar conhecimento do artigo de sua autoria, intitulado “A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas”, publicado em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/angela-alonso/2016/10/1825018-a-republica-das-marcelas-o-reino-das-princesas-e-o-sonho-das-meninas.shtml, vem se manifestar em defesa da profissão de Serviço Social.
2. Em que pese termos acordo e considerarmos bastante oportuna a sua análise crítica sobre o papel subalterno e decorativo da atual primeira-dama ilegítima, forjando um modelo inteiramente destoante da condição feminina na atualidade, causou-nos incômodo e estranheza o trecho em que associa equivocadamente uma profissão – serviço social – “[…] a caridade, a filantropia e outras formas de generosidade talhadas para camuflar a desigualdade”;
3. O Serviço Social, por meio de profissionais assistentes sociais, que exercem esta profissão, há mais de três décadas fizeram um giro teórico-metodológico que redirecionou sua intervenção profissional, rompendo definitivamente com a concepção tradicional da profissão, que a vinculava a práticas da caridade e filantropia, não raras vezes de viés religioso. Hoje, ao contrário, o Serviço Social é uma profissão laica, regulamentada, com competências e atribuições privativas definidas legalmente, atuando em diferentes níveis no âmbito das políticas sociais. Nosso compromisso ético-político profissional vincula-se a valores e princípios emancipatórios, compreendendo a desigualdade social como decorrente da apropriação privada do trabalho coletivo na sociedade capitalista.
4. Recentemente, por ocasião da apresentação da primeira-dama como embaixadora voluntária do Programa Criança Feliz, manifestamos posicionamento crítico a tal retrocesso, em matéria intitulada “Primeiro-damismo, voluntariado e a felicidade da burguesia brasileira!”. Vale aqui reproduzir trechos desta matéria, que pode ser acessada na íntegra em http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1301.
O anúncio da primeira-dama como embaixadora voluntária do Programa Criança Feliz pelo governo ilegítimo, na quarta-feira (5/10), resgata com força elementos históricos que, neste momento, fortalecem ondas conservadoras que atingem visceralmente a classe trabalhadora: a negação do direito social, a desprofissionalização das políticas sociais e a condição subalterna da mulher.
O primeiro significado deste ato consiste no deslocamento do direito social para uma ode à filantropia, ao voluntariado e à solidariedade indiferenciada. Busca-se fortalecer o reino das virtudes como diretriz central no atendimento às necessidades da classe trabalhadora dentro da “ordem e progresso” em diferentes políticas sociais, tais como assistência social, saúde, educação. Busca-se, equivocada e propositadamente, desmontar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e deslocar a assistência social, tardiamente reconhecida como direito social, para o campo do clientelismo, do assistencialismo, da solidariedade mecânica e, portanto, do não direito.
O segundo corresponde à opção escancarada da desprofissionalização das políticas sociais. Historicamente, tem sido evidenciado que a chamada boa vontade é não apenas insuficiente para intervir no conjunto de desigualdades de classe, gênero, raça, entre outras, mas, sobretudo, um elemento estratégico no campo conservador dirigido ao disciplinamento da força de trabalho e o arrefecimento de sua rebeldia. Conceber e implementar direitos sociais exige trabalhadores/as qualificados/as e com condições adequadas de trabalho! E nós, assistentes sociais, somos parte desses/as importantes trabalhadores/as da assistência.[…]
5. Assim, esperamos que os elementos aqui apresentados venham contribuir para desfazer o equívoco que pontamos e que, oportunamente, sua coluna ofereça aos/às leitores e leitoras a informação correta sobre o Serviço Social, posto que nos é muita cara a concepção de profissão que construímos nos últimos anos.
Atenciosamente,
MAURÍLIO CASTRO DE MATOS
Conselho Federal de Serviço Social
Conselheiro Presidente