No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o CRESS/PB realizou a mesa de diálogo “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sofre primeiro: assistentes sociais no combate ao racismo”, com as palestrantes Kíssia Wendy, Suleya Medeiros e Aline Martinells.

A atividade aconteceu na Praça da Alegria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e foram discutidos os temas racismo estrutural; feminismo negro; e pessoas de terreiro e acesso às políticas públicas.⁠ Houve participação de profissionais e estudantes, que, além de terem acesso a um debate extremamente importante, ainda puderam participar e prestigiar a apresentação cultural do Grupo Guardiões de Angola.

Racismo Estrutural

Aline Martinells iniciou a mesa, falando sobre racismo estrutural no Brasil. Aline é assistente social graduada na UFPB, e é pesquisadora sobre “Raça e Serviço Social”. Segundo ela, a temática racial deve ser discutida para além do dia 20 de novembro, pois deve estar presente em todas as discussões. “Esse evento é importante, pois demonstra o interesse do Serviço Social em se colocar nesses espaços e se apropriar dessa temática, para atender melhor a essas demandas. A universidade hoje tem outra cara, e a nossa pesquisa acadêmica é um sinal do efeito das cotas. São pessoas negras que entram na academia e irão se achar em seus caminhos teóricos. É importante para incentivar as próximas gerações e para nós compartilharmos nossas experiências”, destacou Aline.

Aline Martinells. Foto: Assessoria CRESS/PB

Aline deu continuidade à sua fala, entendendo racismo estrutural como um traço específico da sociedade brasileira, que foi a escravização de pessoas africanas. Esse capital se reinventa e agora utiliza o quesito raça como tecnologia de superexploração. Ela destaca que a “questão social tem cor“.

“Racismo é recurso político; racismo é tecnologia de capital; racismo é estratégia de exclusão, para estabelecer e perpetuar a subalternidade de pessoas negras. (…) Se a gente vai discutir moradia, saúde, violência, temos que atravessar a questão racial”. – Aline Martinells

Feminismo negro

Kíssia Wendy deu continuidade à mesa, falando sobre feminismo negro, destacando personagens importantes para a história da resistência da população negra brasileira, a exemplo de Dandara dos Palmares. Kíssia é assistente social e pesquisadora sobre a condição da produção e reprodução da mulher negra na sociedade e sociabilidade do Brasil. Segundo ela, o Dia da Consciência Negra é importante, por estarmos lutando pelo direito à vida e pelo “bem-viver”, definido pela profissional como “viver com dignidade, ser tratado como cidadão e cidadã”.

Kíssia Wendy (à direita). Foto: Assessoria CRESS/PB

Kíssia contou com a participação do público para falar sobre “epistemicídio“, que seria o esquecimento ou invisibilidade de autores e autoras negras na academia e na literatura. Foi um momento de reflexão e de chamamento das pessoas para que colocassem esses autores e autoras em evidência em suas pesquisas e em suas leituras.

Este dia é importante para reafirmar a nossa luta e a resistência de um povo que tem sido feita desde sempre. Devemos também afirmar e reafirmar a intelectualidade negra. Viemos dizer que vidas negras importam e nos queremos livres, vivas e com acesso a uma vida digna. (…) Nossa luta também é anticapitalista, pois dentro do modo de produção vigente, não tem como se ter emancipação humana. Não temos como vencer a opressão de classe sem vencer a opressão de raça, de gênero e afins”. – Kíssia Wendy

Pessoas de terreiro e acesso às políticas públicas

Suleya Medeiros é assistente social graduada na UFPB e tem como linha de pesquisa a relação das comunidades tradicionais de terreiro com o SUAS – Sistema Único de Assistência Social, seu tema de abordagem na mesa. Suleya destaca que, apesar dessas comunidades terem uma grande importância na formação história do país, esse discurso não é desenvolvido no estudo do Serviço Social. A profissional destaca que a política de assistência trata as comunidades de terreiro como público prioritário, mas este é invisibilizado na perspectiva de proteção social e nos trabalhos acadêmicos.

Suleya Medeiros. Foto: Assessoria CRESS/PB

Não temos como tratar da formação social do Brasil sem trazer as expressões culturais desse povo. É importante as/os assistentes sociais conhecerem essa realidade. As/Os profissionais precisam se informar e desconstruir o preconceito, pois a gente tem um grande contingente de profissionais que são de religiões tradicionais e isso acaba atrapalhando o desenvolvimento dessas políticas. É importante participar desses espaços de debate e se engajar na militância contra o racismo”. – Suleya Medeiros

Grupo Guardiões de Angola

Para finalizar a atividade, o CRESS/PB convidou o Grupo Guardiões de Angola, que faz apresentações de coco, maracatu, samba de roda e outros ritmos de origem africana. O grupo fechou o evento com muita descontração, música e cultura africanas, com a animação e a participação de todos que estiveram presentes.

Grupo Guardiões de Angola. Foto: Assessoria CRESS/PB

Assistentes Sociais no Combate ao Racismo

 Fique por dentro da campanha do conjunto CFESS-CRESS, “Assistentes Sociais no Combate ao Racismo”, pelo site servicosocialcontraracismo.com.br. Acesse os materiais abaixo e participe da luta contra o racismo dentro do cotidiano profissional:

“A opressão racista e a subjugação feminina: pensando as mulheres negras no Brasil”, por Kíssia Wendy

“Triste, Louca ou má– Serviço Social e saúde mental da população negra no Brasil”, por Elisabete Vitorino

“Racismo e exercício profissional de assistentes sociais”

CFESS Manifesta’ especial da Consciência Negra

 

Mariana Costa – JP/PB 3569

Assessoria de Comunicação

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